segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Dilema

À velocidade da carne
é desafiada a frágil amizade.
Sincera quanto há,
sincera quanto é frágil
a carne do coração.

terça-feira, 24 de abril de 2012

As minhas aspirações artísticas

me sequestram da vida
ou nela me mergulham
pra lá demais da tona.

Quando a bela se apresenta,
eu que chafurdei nas conas
só sei entregar uma flor.

E flor é cafona.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Num cabaré da Lapa

por Brás Cubas Jr

Samba abaianado da mineira de Madureira. Encontrei na Lapa a caminho de Lisboa, ainda que longe de Santos-o-Velho, num bar de preços sim europeus e samba do bom, por supuesto trivial ali pela Mem de Sá.
Ocupando o centro do salão, Marcela e sua trupe de gordinhos desinibidos. Metade das criaturas, homens gordinhos, gays e incapazes de segurar um partido alto na palminha da mão. Elas, só gordinhas e feias mesmo. Tinham por hábito ser um grupo de casais, cada fim de semana num arranjo diferente, numa farsa  bem alinhavada por uma alegria genuína e beijos convincentes.
Marcela, alta para uma mulher, gorda como nenhuma de suas amigas - minto; só agora noto aquela enrolada em pano preto florido - e muito desenvolta, assistida e inspirada por seu grupo que num golpe feliz coagiu a banda a tocar Clara Nunes, agarrou o microfone e cantou hinos de Madureira. Passeou por Portela e o Império de seu coração. Neste momento, sua monstruosidade era artística desde sempre.
E nesse antro de gente feia e boa música, existe num canto alguém ainda mais feia. Dançava bonito, feia que era, magra como não devia, rosto de homem em corpo de menina nem bem moça. A graça que não tinha lhe vinha do samba e a abençoava - sim, quando sambava havia graça em seus gestos.
A extravagante feiúra de Marcela era enfeitada por dois laços. O primeiro era cor de rosa, estampado no ombro do vestido. Diria-se brega. O outro enfeite era negra, de nome Alyne.
Uma gracinha era Alyne. Para descrevê-la, poderia falar de sua pele negra, de seu vestidinho preto que delineava um corpo de moça mas brasileira sem dúvida, suas sandálias pretas que mil vezes laçavam seus pés de moça, de suas mãos de gestos enfáticos e suburbanos, do gesto de seus braços enquanto sambava como que sobre nuvens, mas com uma agilidade de quadris que.. ai, Alyne! Poderia falar de seu nariz arrebitado, seus olhos doces, da pele rude, do sorriso que não me deu. Mas nada a descreve mais essencialmente que meu suspiro. Ai, Alyne. Quem me dera tivesses sorrido.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Era uma noite que não tem mais fim

Maria sumiu sem aviso, e eis o que a vida fez de João:
Se casou com qualquer amor e viveu infeliz, para sempre ou até que..




Um dia ele chegou diferente, e o dia amanheceu em paz.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fragment


'Where are you guys from?', asks the troubled nihilist instant reporter to the ordinarily ugly and sated with life couple.
The reply of the short man with his mustache a la d'Artagnan comes in two bits: an immediate, immobilized stare of which the immobility is imposed by his superego in order to avoid the natural and spontaneous reaction of jumping in the interviewer's neck and chocking him to death, and the following words:
-I'm American.
-Oh, says the disappointed interlocutor. 'It'd so much richer if he'd acknowledge his roots. Although that could suggest he's less apt for so-called 
success around here'; that he thinks, and for random reasons here's what he says: "And do you enjoy it?"