segunda-feira, 22 de agosto de 2011

É assim que se luta!




Início do século 19, uma negra africana de traços anatômicos curiosos é exibida num circo de horrores inglês, num puteiro francês e por fim numa escola médica - todos se espantam com sua bunda enorme e sua genitália exótica. 'Vénus Noire', protegido pelo distanciamento artístico e histórico, explora o orgulho do europeu civilizado e os artifícios que o ajudam a ajustar a realidade a si - ou, pra ser menos maniqueísta, lida com a avidez por informação, a curiosidade, e com a incorporação do novo às crenças já estabelecidas.
É pra causar repulsa o destino trágico da coitada. É pra se sair do cinema com remorsos pelos erros do passado. Mas não é assim que se consertam as coisas. O interesse pelo que é novo e diferente é legítimo e desejável. Os expectadores de então - o público do circo, os libertinos, os cientistas - não devem ser condenados por sua curiosidade. Condenação esta que parte certamente dos expectadores contemporâneos meus, das suas poltronas numa sala de cinema, que sem a proteção da voz artística escondem bem escondida sua crença na própria superioridade intelectual.
Um imperativo moral made out of thin air do tipo "ai, ai, ai, não fale mal do seu amiguinho" não convence a ninguém, e nem deve. A curiosidade é saudável, e o novo deve ser conceitualizado com base em evidências - e aqui está a maior crueldade reportada pelo filme: a coitada foi convencida a cumprir um papel selvagem ridiculamente artificial. Se seu 'sócio' africâner a tivesse permitido mostrar a própria arte, a plateia se renderia - como de fato ocorre por um instante - e a frenologia (hipótese científica da época que suportaria a ideia de inferioridade intelectual dos negros) do Dr Cuvier perderia força.
Contra a ideia da superioridade caucasiana: Machado de Assis, Lázaro Ramos, Barack Obama, Paris Hilton e Bombino, esse neguim aí embaixo:



Como disse uma amiga minha, this is how you fight!

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